Tenho 27 anos e sou natural de Caldas da
Rainha, encontrando-me actualmente a residir em Lisboa. Como tantos
portugueses, cresci num meio social e familiar onde o consumo de animais era
muito frequente e apreciado. Durante a infância e a adolescência nunca vi
qualquer problema com esta prática alimentar. Pelo contrário, comia até com
bastante prazer, o que via como algo perfeitamente natural e até desejável.
Lembro-me de sentir alguma estranheza quando comecei a ouvir falar em
“refeições vegetarianas”. Não me teria ocorrido que era possível fazer uma
refeição equilibrada, agradável e prática sem qualquer porção de animal. E
afinal, felizmente, é! Foi por essa altura que comecei a ver realmente o que
tinha no prato… porções de corpos de animais mortos. Tecido muscular, vasos
sanguíneos, pele, gorduras, sangue, nervos e outros tecidos, que haviam
constituído um ser, um indivíduo com capacidade de experienciar o que lhe
aconteceu. Comecei também a conhecer quão miserável e indigna teria sido a vida
de cada um destes animais nas unidades de produção e abate – sujeitos ao
maltrato, confinamento e privação de liberdade, sobrelotação, agressão,
mutilação e doença – apenas para que eu pudesse satisfazer os meus hábitos e
preferências alimentares. Parecia-me, cada vez mais, que a forma como
subjugamos e exploramos os animais é injusta e pouco leal. A mudança para o
vegetarianismo veio nesta sequência, de forma lenta e progressiva, à medida que
aumentava o desconforto que sentia perante estes factos, concretizando-se por
volta dos 19/20 anos. As preocupações éticas para com os animais estiveram na
origem desta transição e mantêm-se hoje no centro, embora não consiga ignorar
as questões ambientais e de saúde pública.
Actualmente sou aluno de doutoramento em
Psicologia no Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) e, neste âmbito,
encontro-me a explorar os mecanismos de desvinculação moral associados ao
consumo de animais. Ou seja, face ao conhecimento dos danos que os actuais
padrões de produção e consumo de animais implicam ao nível do ambiente, da
saúde pública, e para os próprios animais que são criados e abatidos para fins
alimentares, exploro quais são, e como funcionam, os factores psicossociais que
levam à manutenção destas práticas alimentares sem que esta escolha implique problemas
do ponto de vista moral. O meu compromisso é, então, o de ajudar a compreender
algumas das fontes de resistência à minimização dos danos – através da
diminuição e eventual cessação do consumo –, e trabalhar para a concretização
das implicações que daí advirem.
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