quarta-feira, 21 de novembro de 2012

João Graça


Tenho 27 anos e sou natural de Caldas da Rainha, encontrando-me actualmente a residir em Lisboa. Como tantos portugueses, cresci num meio social e familiar onde o consumo de animais era muito frequente e apreciado. Durante a infância e a adolescência nunca vi qualquer problema com esta prática alimentar. Pelo contrário, comia até com bastante prazer, o que via como algo perfeitamente natural e até desejável. Lembro-me de sentir alguma estranheza quando comecei a ouvir falar em “refeições vegetarianas”. Não me teria ocorrido que era possível fazer uma refeição equilibrada, agradável e prática sem qualquer porção de animal. E afinal, felizmente, é! Foi por essa altura que comecei a ver realmente o que tinha no prato… porções de corpos de animais mortos. Tecido muscular, vasos sanguíneos, pele, gorduras, sangue, nervos e outros tecidos, que haviam constituído um ser, um indivíduo com capacidade de experienciar o que lhe aconteceu. Comecei também a conhecer quão miserável e indigna teria sido a vida de cada um destes animais nas unidades de produção e abate – sujeitos ao maltrato, confinamento e privação de liberdade, sobrelotação, agressão, mutilação e doença – apenas para que eu pudesse satisfazer os meus hábitos e preferências alimentares. Parecia-me, cada vez mais, que a forma como subjugamos e exploramos os animais é injusta e pouco leal. A mudança para o vegetarianismo veio nesta sequência, de forma lenta e progressiva, à medida que aumentava o desconforto que sentia perante estes factos, concretizando-se por volta dos 19/20 anos. As preocupações éticas para com os animais estiveram na origem desta transição e mantêm-se hoje no centro, embora não consiga ignorar as questões ambientais e de saúde pública.
Actualmente sou aluno de doutoramento em Psicologia no Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) e, neste âmbito, encontro-me a explorar os mecanismos de desvinculação moral associados ao consumo de animais. Ou seja, face ao conhecimento dos danos que os actuais padrões de produção e consumo de animais implicam ao nível do ambiente, da saúde pública, e para os próprios animais que são criados e abatidos para fins alimentares, exploro quais são, e como funcionam, os factores psicossociais que levam à manutenção destas práticas alimentares sem que esta escolha implique problemas do ponto de vista moral. O meu compromisso é, então, o de ajudar a compreender algumas das fontes de resistência à minimização dos danos – através da diminuição e eventual cessação do consumo –, e trabalhar para a concretização das implicações que daí advirem.

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